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O Intruso

Eu não sei de onde meus humanos tiraram a ideia de que eu precisava de companhia. Eu estava muito bem sozinha! Tinha a casa todinha pra mim, o quintal, a minha cama enorme - que os humanos insistem em dormir nela.

Eu simplesmente era a dona da casa. Mas não, eu precisava de um pestinha que acha que é meu irmão na minha cola. E pior, nem meus petiscos são só meus agora, tenho que DIVIDIR.

Tenho evitado todos os cantos da casa que esse tal Nico está, mas ele insiste em me seguir com aquele miado desafinado.

- VAI EMBORA! – eu grito a cada vez que ele se aproxima.

Minha humana também tentou melhorar as coisas, sempre tentava brincar comigo com meus brinquedos, mas o inconveniente sempre se achava no direito de brincar também, então eu rosnava pra ele, e ia me esconder em algum canto da casa.

Na hora do jantar, eu não estava com fome, estava triste. Será que é um crime querer ser a única dona dos humanos?! Antes dele chegar, era só eu dar um miado, e pronto, carinho na barriga, petisco, sache, brinquedo e colo. Agora? Eu rosno e escuto um “Não faz assim com ele, ele é seu novo irmãozinho”.

Para melhorar, essa noite meus humanos tiveram a audácia de fechar a porta do quarto. E lá vem ele, de novo, tentar amizade.

- Oiii, trouxe essa bolinha, vamos brincar?

- Não, já te falei que não quero contato com você, fedorento, saiu de onde? De um canil?

- Sim, me trouxeram de lá, não é de lá que vem os gatinhos?

Estreitei bem os olhos, o encarando. Ele era mais ou menos do mesmo tamanho que eu, quando adotei minha humana, na rua, anos antes. Quando eu era um filhote, estava morrendo de medo de dois cachorros que estavam na rua. Até que vi uma mulher passando, ela me viu, e me fez um carinho na cabeça, e continuou andando. Minutos depois, a vi voltando, e coloquei meu plano em pratica, grudei na perna dela, que me levou pra casa.

- Nem todos tem a mesma sorte. - Respondi, saindo do meu devaneio.

Me aninhei no sofá, e fechei os olhos para dormir, ignorando-o totalmente.

Essa noite, dormi bem quentinha, e lá pelas tantas, acordei e dei de cara com o intruso dormindo grudado em mim, respirando alto.

Por um momento, pensei em expulsa-lo no tapa, mas o olhei bem, e ele estava dormindo tão profundamente, que resolvi relevar, e logo peguei no sono novamente.

Acordei de manhã com a minha humana com uma câmera apontada para nós dois, dizendo muito alegre: “Eu sabia que eles iam se dar bem rapidinho, olha, amor!”

Antes que eu pudesse fugir, o intruso se espreguiçou e murmurou um obrigado, e disparou para o café da manhã. E quer saber? Eu também estava com fome.

Joice Novaes, 27 anos, formada em Letras, escritora. Casada com o seu melhor amigo (Colaborador do blog)! Romântica, amante de livros, musica, filmes, séries, fotografias e muito mais.

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